Dopamina

19/01/2013 16:45

Características farmacológicas

Agente vasopressor, estimulante cardíaco e inotrópico da classe das aminas vasoativas, promove liberação endógena de noradrenalina. Líquido de coloração clara e odor forte (semelhante ao cheiro de alho, igual à Norepinefrina), possui pH extremamente ácido, entre 2,5 e 3,3. Não utilizar se houver alteração da cor ou precipitação (cristais). O início e a cessação dos efeitos são praticamente imediatos, com uma meia-vida de 2 minutos.

 

Indicações clínicas

  • Choque séptico, cardiogênico, anafilático e de baixo fluxo renal;

  • Disfunção miocárdica e baixo fluxo;

  • Estabilização da PA pós-reanimação cardiopulmonar-cerebral para melhorar a perfusão cerebral;

  • Correção de desequilíbrios hemodinâmicos com hipotensão resultante de choque cardiogênico pós-IAM, trauma, cirurgia cardíaca, insuficiência renal e descompensação cardíaca crônica;

  • Estados de baixo débito cardíaco, com volemia controlada ou aumentada, em que seja necessária atividade inotrópica.

 

Via de administração

Via EV por infusão contínua - NUNCA em bolus (NUNCA JAMAIS!!!)

 

Diluição recomendada

  • A literatura cita 06 ampolas em 190 ml de SF 0,9% ou SG 5% - concentração de 1,2 mg/ml;

  • Outra fonte consultada e minha experiência prática: 05 ampolas em 200 ml de SF 0,9% ou SG 5% - concentração de 1 mg/ml;

  • Fakih (2000) cita ser preferencial a diluição com SG 5%.

Dose terapêutica

Os efeitos esperados da Dopamina são dose-dependentes, ou seja, a dose será ajustada de acordo com o grupo de receptores que se deseja estimular para gerar uma resposta fisiológica - receptores alfa, beta ou dopaminérgicos (ver item "Drogas Vasoativas" do Tema da Semana na página inicial):

  • 0,5 a 3 mcg/kg/min - efeitos dopaminérgicos: promove vasodilatação das artérias renais, mesentérica, coronarianas e cerebral, proporciona aumento do débito urinário por aumento da filtração glomerular;

  • 3 a 10 mcg/kg/min - efeitos beta-adrenérgicos: ação inotrópica positiva (aumento da contratilidade miocárdica) com moderada elevação da FC e PA, aumento do débito cardíaco e do retorno venoso para o coração com discreto aumento da resistência vascular sistêmica;

  • acima de 10 mcg/kg/min - efeitos alfa-adrenérgicos: vasoconstrição sistêmica com aumento da resistência vascular periférica, da FC e da PA. Nessa dose mais alta pode ocorrer desequilíbrio entre a oferta e o consumo de O2, podendo ocasionar isquemia miocárdica;

  • doses acima de 20 mcg/kg/min - efeitos hemodinâmicos semelhantes aos da Norepinefrina, porém é uma dosagem altamente arritmogênica, ou seja, desencadeante de arritmias e reduzem a perfusão renal. A dose máxima recomendada é de 50 mcg/kg/min.

Vou tornar a situação mais concreta para não ficar parecendo grego...

Vamos imaginar uma pessoa de 60 Kg, considerando a diluição de 05 ampolas (50 mg/10 ml) em 200 ml de solução, totalizando 250 mg em 250 ml (concentração de 1 mg/ml), suas dosagens de acordo com o peso e taxas de infusão seriam:

  • Efeitos dopaminérgicos - 30 mcg/min, ou seja, 1,8 ml/h em BI;

  • Efeitos beta-adrenérgicos - 180 mcg/min, ou seja, 10 ml/h em BI;

  • Efeitos alfa-adrenérgicos - 600 mcg/min, ou seja, 36 ml/h em BI;

  • Efeitos semelhantes à Norepinefrina - 1200 mcg/min, ou seja, 72 ml/h em BI.

Esses valores de dosagem e vazão serão diferentes para cada efeito terapêutico desejado, conforme a clínica do paciente, e também pelo seu peso corporal. 

 

Reações adversas

  • Angina;

  • Arritmias (taquicardias ventriculares e supraventriculares, bradicardia);

  • Azotemia (aumento da uréia e creatinina séricas);

  • Dispnéia;

  • Cefaléia;

  • Palpitação;

  • Náuseas e vômitos;

  • Piloereção ("arrepios").

 

Estabilidade da solução

Estável em temperatura ambiente até 24 horas, quando deverá ser trocada. O Cloridrato de Dopamina decompõe-se formando compostos bastante corados, ou seja, alterações na cor da solução (opalescente, castanho, âmbar) significam que houve comprometimento da estabilidade e precisa ser trocada imediatamente.

 

Clientela pediátrica

A segurança para o uso em crianças não foi estabelecida, porém tem sido usada, mas a experiência é limitada. A eliminação é afetada pela idade, função renal e hepática. Em neonatos, a eliminação é altamente variável e estes podem ser mais sensíveis aos efeitos vasoconstritores da droga. Exige monitoramento hemodinâmico atento e rigoroso. Não é indicado a administração em cateter de artéria umbilical, pois existem relatos de eventos vasoespásticos quando a Dopamina é infundida por um vaso umbilical. A recomendação é a mesma da Norepinefrina quanto ao uso de BI de seringa.

 

Interações medicamentosas

  • Tem sua ação inativada quando em contato com soluções e medicamentos alcalinos, por exemplo: Bicarbonato de Sódio, Aminofilina, Fenitoína;

  • Mantém-se estável em soluções com pH entre 4 e 6,4 - para se ter esta informação basta ler o rótulo das soluções, a maioria delas contém o valor do pH;

  • Incompatível com: Amicacina, Ampicilina, Anfotericina B, Benzilpenicilina Potássica (Peniclina Cristalina), Bicarbonato de Sódio, Cefalotina, Cefepime, Ciprofloxacino, Furosemida, Gentamicina, Heparina, Metronidazol, Nitroprussiato de Sódio, Tiopental, Insulina Regular, Lidocaína, Cloranfenicol,  Meropenem, Metilprednisolona, Nitroglicerina, Oxacilina, Ranitidina. Hidrocortisona, Verapamil.

  • Anestésicos gerais halogenados (Halotano, Ciclospropano): ocorrem arritmias e hipertensão, mesmo com doses baixas de ambos;

  • Fenitoína: hipotensão e bradicardia, usar com EXTREMA cautela;

Assistência de enfermagem ao paciente em infusão de Dopamina

  • Manter monitorização em monitor multiparâmetro - PA, FC, ritmo, spO2 e o que mais for possível, sendo imprescindível os 3 primeiros;

  • Administrar em acesso periférico apenas até estabilização do paciente para instalação de cateter venoso central precocemente. Dar preferência às veias do antebraço, de grosso calibre, com dispositivo de tamanho adequado ao diâmetro da veia de escolha. Evitar dorso das mãos e articulações pelo risco de extravasamento e proximidade de tendões e nervos - lesões mais graves;

  • EVITAR SEMPRE infundir na mesma linha EV com medicamentos e soluções incompatíveis;

  • Observar rigorosa e sistematicamente o acesso venoso recebendo a infusão para pesquisar sinais de flebite - hiperemia, cordão venoso hiperemiado e endurecido, dor à palpação, edema local, aumento da temperatura local;

  • Observar contínua e sistematicamente o local de infusão, pesquisando sinais de extravasamento - palidez que evolui para hiperemia não-reativa, cianose e lesão bolhosa com conteúdo sanguinolento, equimose e necrose tecidual importante (ver imagem de extravasamento ao final da página), as lesões são semelhantes às causadas por extravasamento de Norepinefrina;

  • Monitorar débito urinário;

  • Observar sinais de vasoconstrição periférica - cianose de extremidades, moteamento, parestesias;

  • Realizar desmame gradativo da infusão, NUNCA interromper subitamente a infusão;

  • Administrar EXCLUSIVAMENTE em BI volumétrica. EXCLUSIVAMENTE meeeeesmo!!!

  • Trocar as soluções a cada 24 horas, respeitando a rotina institucional da CCIH para prevenção de contaminação da linha EV, lembrando de desprezar todo o conteúdo do equipo, pois este também está com a estabilidade vencida;

A imagem abaixo foi retirada da internet e mostra uma lesão necrótica extensa por extravasamento de Dopamina. Podemos notar que as lesões são bem parecidas com as causadas por extravasamento de Norepinefrina.

 

Referências Bibliográficas:

FAKIH, F. T. Dopamina. In:_____________. Manual de diluição de medicamentos injetáveis. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso, Ed., 2000. p. 92-3.

TRISSEL, L. A. Cloridrato de Dopamina. In:_________________. Guia de bolso para fármacos injetáveis. 14ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. p. 145-48.

CHEREGATTI, A. L.; AMORIM, C. P. Cloridrato de dopamina. In:______________________. Drogas utilizadas em UTI e anticoagulantes. 3ª ed. São Paulo: Martinari, 2011. p. 51-6.

GAHART, B. L.; NAZARENO, A. R. Dopamina. In:________________________. Medicamentos intravenosos. 26ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. p. 425-27.

CINTRA, E. A. Drogas vasoativas. IN: CINTRA, E. de A.; NISHIDE, V. M.; NUNES, W. A. Assistência de enfermagem ao paciente gravemente enfermo. São Paulo: Atheneu, 2005. Cap. 4. p. 50-1.


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