Administração de Insulina Regular EV Contínua em BI

07/12/2012 08:31

Essa é para minha amiga e colega Lília Costa...

Características farmacológicas da Insulina Regular

Constitui uma droga que sofre alto fenômeno de adsorção pela superfície com a qual entra em contato, caso essa superfície seja de PVC (citrato de polivinila), como a maioria dos equipos disponíveis, pois este material confere maleabilidade ao plástico. Porém, a adsorção ocorre também com vidro, polietileno, polipropileno e EVA (etileno vinil acetato). A taxa de adsorção pode chegar a 80% e tem início imediato. Um estudo demonstrou as porcentagens da adsorção: das 30 UI de Insulina introduzidas numa solução apenas 6.4 UI infundiram-se no paciente, pois houve adsorção imediata de 52% pelo frasco (15.8 UI), 55% pelo equipo (7.9 UI) e 7% pela seringa, totalizando 79% - perda de 23.7% da dose inicial.

A adsorção e sua implicação clínica/terapêutica

A adsorção é a fixação de uma substância (adsorvato) na superfície de outra substância (adsorvente), no caso da Insulina, esse processo inicia-se imediatamente ao contato e interfere na demanda confiável de Insulina administrada ao paciente, ou seja, a dose infundida não corresponde à dose prescrita e preparada originalmente, acarretando alteração da resposta clínica dos níveis glicêmicos do paciente (atraso da resposta terapêutica desejada). Um outro estudo demonstrou que o material de maior adsorção foi o vidro, seguido pelo PVC e por último o polipropileno (adsorção de metade do valor correspondente ao PVC), porém a adsorção ocorre em todos os materiais, em menor ou maior escala.

Boas práticas recomendadas

  • Saturação prévia do equipo (ou Condicionamento): recomenda-se a pré-exposição do equipo à solução de insulina, onde esta permanece em contato com o equipo por pelo menos 60 minutos antes da infusão no paciente. Após este tempo, deve-se enxaguar o equipo com esta mesma solução em velocidade baixa (vazão pequena), pois a lavagem rápida do equipo pode não garantir tempo adequado para saturar todos os sítios de ligação do equipo. É como se tentássemos encapar internamente o equipo com insulina, tampando todas as possíveis áreas de adsorção, permitindo que o restante passe livremente para a alcançar o sistema venoso do paciente, atingindo o efeito no tempo esperado;

  • Um estudo recomenda o tempo mínimo de saturação do equipo de 30 minutos e o enxágue com pelo menos 100 ml da solução;

  • Outra alternativa viável citada é a prescrição de uma dose mais concentrada de solução insulínica na primeira bolsa, já considerando o fenômeno de adsorção que ocorrerá sem a saturação prévia do equipo, no caso de gravidade clínica do paciente e inabilidade em esperar o condicionamento do equipo;

  • Administração EXCLUSIVAMENTE em bombas de infusão, preferencialmente volumétricas, devidamente calibradas;

  • Atenção para associação com medicamentos e soluções alcalinas - a insulina é inativada em pH acima de 7,5 (bicarbonato de sódio, fenitoína, fenobarbital, aminofilina, ampicilina,propofol, etc.)

  • Após o preparo, homogeneizar a solução balançando o frasco 5 vezes;

  • Aguardar 5 minutos antes de iniciar a infusão para estabilização da mesma (corresponde aproximadamente ao tempo de programação da BI);

  • Trocar a bolsa de solução a cada 4 a 6 horas;

  • Não administrar concomitantemente com: noradrenalina, dopamina, metilprednisolona, tiopental;

  • Observar rigorosamente a administração simultânea com nutrição parenteral, diltiazem, dobutamina, ranitidina, levofloxacino, pantoprazol - compatibilidade variável.

Variáveis que interferem na adsorção

1. Material utilizado para administração - já discutido acima;

2. Área de superfície dos frascos - quanto maior a área interna do equipo, maior será a adsorção, pois as moléculas de Insulina terão maior superfície de contato para a adesão. Exemplo: equipos com filtros possuem área interna maior do que os convencionais (tipo hemotransfusão);

3. Velocidade de infusão - a adsorção máxima ocorre rapidamente, se estabilizando nas 2 primeiras horas de infusão (saturação interna do equipo);

4. Concentração da Insulina - a taxa de adsorção é inversamente proporcional à concentração insulínica, ou seja, quanto menor a dose maior será a adsorção. Imagine o seguinte: se você tem pouca quantidade de insulina na solução, consequentemente você tem mais área de superfície interna "sobrando", isso faz a superfície atrair quase toda a insulina disponível, ficando aderida no frasco e na linha EV e chegando muito pouco no paciente;

5. Diluente - estudos demonstraram resultados controversos, mas alguns citam que SF 0,9% promove menos adsorção que SG 5%, outros autores relatam que tanto uma quanto outra não oferecem impacto na adsorção. Relatam também que nas primeiras 8 horas  não houve diferença importante em SG 5% ou SG 50%. Investigações demonstraram índices de 15 a 50% de adsorção em soluções isotônicas (SF 0,9%, RL) e de 9% em soluções hipertônicas (SG 50%, por exemplo).

Referências:

TRISSEL, Lawrence A. Guia de bolso para fármacos injetáveis. Porto Alegre: Artmed, 2008. 14ª ed. p. 298-300.

GAHART, Betty L.; NAZARENO, Adrienne R. Medicamentos intravenosos. 26ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. p. 715-20.

ALMEIDA LIMA, S. de; ANDREOLI, R. L. F.; GROSSI, S. A. A.; SECOLI, S. R. Insulina intravenosa: controvérsias sobre o processo de adsorção nos dispositivos de infusão. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, 2008, jun. p. 292-300. (Artigo de revisão).

FAKIH, Flávio T. Manual de diluição e administração de medicamentos injetáveis. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Ed, 2000. p. 136-37.

ANTÔNIO, A. L. O.; SILVA, M. C. M. da; CONISHI, R. Diretrizes assistenciais do Hospital Sírio-Libanês - protocolo de enfermagem do controle glicêmico em UTI. Outubro/2004.

 


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